8 de julho de 2010

Coisa minha



Fico fascinada ao me deparar com qualquer pôr-do-sol. Nunca escondi isso de ninguém. Me perco nas cores que pintam o céu. Penso, repenso, relembro, esqueço. Correm os minutos, pauso o tempo só pra mim. Transbordo sentimentos. Se pararem para me observar, notarão minha distância dali: transporto-me para meu interior e lá descubro a primavera e o beco sem saída - e qualquer outra estação meio fria - que existem permanentemente em meu ser. Transpareço minhas cores, minhas dores, você, nós, minhas invenções, saudades, meus versos e sentimentos, e percorro um longo caminho até não mostrar nada daquilo que sou. Pareço flutuar nalgum mar invisível, num mar de lembranças. Afogo-me e perco o tempo que havia parado... Sempre acabo perdendo algum pedaço nessas viagens de mim pra mim. Já não me resta nem mais um segundo, e todas as cores secaram.
Ainda me resta um brilho refletido no mar e infinitos pontos espalhados num lençol preto sobre minha cabeça. Parece que nunca vai chegar ao fim. Misturo uma dose de amnésia com outra de desapego, mas nunca vai-se embora o amor que vive dentro de mim. É característica minha, devo ter algum erro de fabricação, talvez algum problema com entregar-me, não sei. Vivo com essa coisa dentro de mim; esse amor, esse jeito inconstante, essa mania de ser jogada para os sentimentos. Sou toda feita do avesso, com a alma do lado de fora, mais fácil de pegar. A noite passa rápido. Canto seu canto com ela e meu coração bate no ritmo de alguma canção sem sentido. O tempo passa cada vez mais rápido: corre, voa, nem o vejo mais. Invento de contar as estrelas. Gasto aquilo que já nem tenho tentando limitar o infinito. Busco limitar a mim mesma, tentando me resumir numa frase, ou talvez um parágrafo. Não consigo. O dia já começava a raiar, e eu perdia meus minutos tentando entender o que é que acontece nesse meu interior bagunçado.
Meu coração cantava num ritmo diferente, e o sol acompanhava-o. Subia rápido, mas era tão lindo, que nem tive coragem de pedir pra ir mais devagar. Rompia o silêncio de um céu roxo, com uma delicadeza que só ele poderia ter. Lembrei-me de você, por algum motivo que não sei explicar. Não sei, deve ter sido essa história de romper delicadamente, embora você tenha feito o oposto comigo. A alvorada chegava ao fim, e eu não conseguia pensar em mais nada que não fosse o sorriso que brotara no meu rosto quando me veio à mente o seu sorriso; aquele fácil e quente, o que eu mais gosto. Fico perturbada toda vez que lembro como você mexe comigo assim, tão deliberadamente fácil. Estranho como você consegue mexer com os cantos de minha boca de um jeito tão natural; me assusta.
Acho engraçado como eu tenho essa mania de mergulhar em mim, a cada pôr-do-sol. Viajo, me transporto, saio de mim, mas sempre acabo no mesmo lugar: você. Amanhã, depois, acontece de novo, e continuo aqui, esperando. Nunca acaba... Tudo se renova, todos os dias, a cada crepúsculo. É que eu tenho essa mania de ir por aí, fazendo como bem quero, mas nem mesmo eu me obedeço. Tenho mania de inventar de ser só coração, mas não aguento.


Tenho mania de tirar tudo do peito.
 Mas o dia tem mania de colocar tudo de volta.