31 de dezembro de 2011

Novo



 Limpei a casa e reorganizei os móveis. Joguei fora tudo que não me servia mais e só fazia acumular poeira dentro do meu coração. As lembranças continuam engavetadas, guardadas de mau jeito, para que eu possa dar uma olhada vez ou outra.
Ando cheia de vontades. Vontade enorme de ser feliz – sempre mais e mais, porque nós, seres humanos e de sangue pulsante correndo louco nas veias, temos essa mania de querer demais. Vontade de entregar-se ao novo, àquilo que ainda está chegando ou já chegou por completo – e me entrego. Vontade de plantar algumas árvores, muita alegria e gentileza no solo desse mundo desconcertado.
Meu coração tá transbordando de tanta coisa linda que tem guardada nele, e quero poder doar um pouco disso para todo aquele que queira experimentar – aprendi que não adianta se doar para quem nada quer ou não se deixa querer: a gente só se desgasta e gasta nosso carinho.
Vontade de jogar amor para cima, para baixo e para todos os lados. Nas diagonais, paralelas, perpendiculares e diversas outras direções. Espalhar o amor: “que seja doce”. Muito.
Que sejamos mais - e menos também. Que nossos estômagos se encham de borboletas e nossos corações se acalmem um pouco. Que mudemos – a nós e ao mundo. Que cresçamos. Que somemos e multipliquemos mais do que temos subtraído.

Que comecemos de novo e de novo, todos os dias.
           E que venha o novo. 





19 de dezembro de 2011

Sobre mares, olhos e chuvas


 
Tô me guiando na sorte, pelo acaso. Coisa rara, de uns tempos pra cá. Quem sabe até dê certo, valha o risco que a gente corre cada vez que insiste em abrir a alma e deixar pegar no coração. Sim, não. Talvez. As incertezas nunca foram tão certas.
Mesmo que as palavras acabem, ainda existem os olhos. E os olhos, benzinho, duram uma eternidade. Nem que o coração salte pela boca e a gente prenda no último instante; nem mesmo quando esse músculo tá cansado, parando de bater: os olhos ficam com a gente, custe o que custar. Mesmo sendo involuntário ver o reflexo dos seus quando fecho os meus, no interior das minhas pálpebras. Mesmo doendo, os olhos continuam bem guardados. Perto, longe, não importa. Vejo teus olhos daqui; eles conversam com os meus.
Entenda logo como sou e saiba me contornar vez ou outra. É que essa minha mania de contradição acaba atrapalhando muita coisa e eu vou ficando cada vez mais perdida dentro de mim. Quero que você fique, mas vai ter um momento em que vou espernear e pedir pra você desancorar o seu barco do meu cais: não vá, é só confusão minha. Quero mais é que você fique e explore meus mares. Entenda que minha maré é muito difícil de prever e que quase lua nenhuma dá jeito nisso. Entenda que você me dá vontade de navegar até onde for possível, só pra poder te encontrar de novo, no caso da gente se perder. Sou tempestade em copo d’água, mas quero que você me derrame por aí. Me espalhe, me guarde. Entenda que quase sempre isso aqui tá uma bagunça, mas se for problema dos grandes, eu dou um jeitinho de arrumar a casa. Mas quero que você mergulhe no meu mar, sim?

Hoje a maré tá calma. Com vontade de você, cada vez mais. Chove um pouco. A areia tá toda pontilhada, marcada da água, sabe como é? Acho uma delícia andar pela praia quando o chão tá assim, fazendo cócegas nos pés. Gosto quando a chuva sai de mim e vai molhar o mundo. 

De Orlando Pedroso



4 de dezembro de 2011

Exceção


“- (...) o murchar das flores é o sinal do nascimento dos frutos; e dos frutos vem a semente e o ciclo do coração... se as flores não murcharem, como há de existir frutos e sementes? Até os lírios murcham.
- Eu queria que as flores durassem para sempre.
- Assim como as primaveras?
- Mas a gente guarda pelo menos a lembrança delas, não é?  De certo modo, elas nunca morrem. Entende?
- Entendo. Concordo. Se você quer eternizar é só guardar direitinho, como uma flor dentro de um livro.
- Eu tenho flores guardadas assim.
- Eu tenho amores guardados assim.”

Engraçado que independentemente do tempo correr ou passar se arrastando, a gente tá no mesmo lugar, morrendo de saudade um do outro. Não importa se um dia foi espinho ou se já é flor de novo, eu te guardava – e guardo – de todo jeito, desde sempre. Você bem sabe dessa minha mania de passado, essa coisa de lembranças, detalhes. Canceriana demais. Cancerianos demais.
Amor-amizade: talvez a melhor definição de alguma coisa que a gente já fez. Esse amor raro, misturado, feito para nos levantar e derrubar ao mesmo tempo. Tão nosso. A gente nunca conseguiu se deixar ir. Mesmo com todos os desapegos, tentativas de expulsar de dentro do coração, investidas falhas e limites incertos: a gente nunca parou de se guardar. Nem que tenha sido de uma forma escondida ou escancarada - mas mentida -, a gente nunca conseguiu quebrar nossa promessa. Nem mesmo quando a primeira música que te mostrei dizia que eu ia embora.
É bom saber que no fundo, no fundo, a gente nunca mudou. Nem iremos. Uma delícia ouvir que ainda te causo sorrisos. Você sabe que por aqui também. O jardim continua bagunçado, como sempre, mas bem cuidado. A cada flor que nasce, lembro do significado de “cativar”. Lembro de você, nem que por meio segundo. Lembro tanto de como me deixei ser cativada por uma pessoa tão inconstante quanto eu. Logo nós, que mesmo tão cancerianos, temos toda essa falta de certeza.

A gente sempre vai ser esse parêntese em aberto.
Guardo flores assim. Cartas, caixas. Você. 


            Amores também.



1 de dezembro de 2011

Incêndio






O amor me consome
feito fogo faz com palha:


rápido,
           quente,
                       pó pra sempre.

16 de novembro de 2011

Sem resposta



É tanta coisa junta. Estresse acumulado, tensões, amores mal resolvidos - tem também os indesejados e mesmo assim, guardados -, histórias mal contadas, finais sem seus devidos fins, promessas e lealdades descartadas. Na verdade, o problema é que o amor me enche de perguntas e eu invento de querer as respostas na hora errada. A gente tem (eu tenho) que parar de enfeitar as coisas e começar a ser pelo menos um pouquinho pragmático. Fica difícil não querer um par de pés junto aos seus na cama, num final de tarde, num desses momentos silenciosos de domingo. Ainda mais complicado lembrar-se do dia em que aquele nariz quase morreu no seu pescoço e os dois ficaram daquele jeitinho, quietos, como que para sempre grudados; o nariz dele no pescoço dela. A gente nunca sabe quando e como começa, a gente nunca sabe de nada... mas a gente tem que parar de botar amor onde não tem. Se a blusa é rosa ou vermelha, é tudo questão de ponto de vista. Mas se é amor ou não, é questão de coração.
Vezenquando até penso em como a gente podia ter dado certo. Ou não, vai saber. Penso em como poderíamos ter sido só nós dois. Dias vazios ou cheios, chuvosos ou ensolarados, tristes ou felizes: só nós dois. Mais nada. Penso em como você fazia - e até ainda faz – surgir novas cores pintando o meu rosto, em como você trazia jardins pra perto do meu peito. Fico a imaginar se alguma vez fui capaz de te dar o mesmo que você deu a mim. Um arrepio, pelo menos. Uma música, sei lá. Um sorriso ao lembrar alguma coisa minha, quem sabe. Talvez até uma saudadezinha de nada, só pra alimentar esse amor meu, mesmo que de longe. Fico louca querendo saber de você.
Mas o amor tem dessas coisas, não é? A gente só quer ver o outro feliz. E eu te sinto feliz, meu bem. Mesmo que seja uma daquelas felicidades confusas, de momento, misturadas com tantas outras coisas. Te vejo daqui. Te acomodo no meu coração, bem lá no cantinho, pra nunca te deixar ir.  Te guardo. Já faz tempo que você vive dentro de mim, benzinho. A gente não escolhe, só sente. E diz que sim.
A onda que bate aqui é forte, mas a maré vai diminuindo. Qualquer dia desses o mar fica seco. Me deixo levar: bóio no meu coração, esse oceano que a cada dia vai ficando mais salgado. Cuidado pra você não cair dessa bóia, amor. Vê se te segura bem. Eu venho segurando até bem demais, não é? A gente aprende. Se quiser, te ensino. Mas te cuida, que eu tô indo nesse balançar. Não sei se volto, mas não te quero perdido. Te guarda. Eu te guardo. E vou.


Amar é querer ficar, mas ter que ir embora. É querer te saber; nem que seja só por um simples “tá bem?”. É estar cheio de dúvidas e não ter sequer uma resposta, um esclarecimento que ajudasse a seguir o caminho. É estar constantemente insone, dopado: vive-se sem ser. Amar é adorar pelo avesso, ser tua sem pestanejar, doando e doendo: amor. 

3 de novembro de 2011

Preocupação de ser




 Dias bonitos me fazem querer viver mais. O céu azul, o Capibaribe lindolindolindo - não importa o que façam com ele -, os pássaros parados nos fios do poste... até mesmo o calor infernal de Recife e os carros que quase me atropelaram. Hoje não quis ficar triste ou sentir qualquer outra coisa que não me deixasse ver o dia que eu estava perdendo até antes das dez da manhã. Não importa o quanto o sono esteja me faltando ou o quanto o amor me perturba e não me deixa dormir, saí de bicicleta pelos arredores do bairro em que moro para sentir o pouco vento bater no rosto. Resolvi não mais me preocupar. Só respirar, sabe? Essa coisa de sentir dá um cansaço na gente. 

E gerúndio infinito que sou, continuo sendo o avesso de sempre. 


27 de outubro de 2011

Matemática

Eu queria me dividir em pelo menos mil pedaços
para que assim o amor ficasse tão pouco em mim
que seria desprezível

mas não é:

Nem que eu me divida em mil, milhões, trilhões
ou sei lá quantos zeros mais,
continua sobrando
e não há subtração que resolva

Quem dera eu pudesse fazer acabar,
nem que ficasse no negativo,
diminuir coisa pouca que fosse,
um pouquinho de nada, vá?

Na minha conta só faço multiplicação
Posso até dividir,
mas só se for pra somar todo esse amor de volta

17 de outubro de 2011

Por que





Tua nuca,
teu cheiro,
minha memória guardando teus trejeitos
(para onde vão tantos detalhes?)

Dá até pra sentir o sangue correndo nas veias
quando toco embaixo do queixo,
lado esquerdo,
perto daquele meu sinal
(daqueles tantos outros sinais
que você quis contar
e cansou)
Não sei se de saudade
ou de felicidade
agonia, talvez
Mas sinto bater,
cansado,
(e rápido!)
o não tão velho coração

Penso tanto antes de dormir
que acabo colocando reticências em tudo
e deixando sem fim
desde o começo

A noite quer dormir
mas eu não deixo, não
Primeiro tenho que ver a rua,
ouvir o silêncio,
perceber que tudo muda de lugar,
menos você

Em três pontos cabem muitas coisas...
principalmente aquilo que nunca se acaba



Será que era de amor?

29 de setembro de 2011

O amor e suas repetições


 Quando amei Maria não tive vontade de andar. Queria mais era ficar ali, deitado, nem que fosse só parado, olhando Maria. Pensava no que ela talvez estivesse pensando, olhava nos seus olhos e tentava achar naquele mel todo um sinal de desespero, algo errado que fosse, uma dúvida sequer, mas eu não achava nada - e ai de mim se achasse, ficar sem Maria, não conseguia imaginar -, acabava gostando mais e mais daquele poço de doce que eram os seus olhos, quietos e curiosos, típicos de uma criança trelosa, de uma Maria contínua, a que ainda possuía o mesmo coração besta desde os cinco anos de idade. Coração rápido, voava no peito e toda vez que eu deitava minha cabeça em seu colo, quase ouvia o coração dela dizer “tá errado, Victor, tá errado”, mas eu não ouvia nem ao menos um sussurro e continuava ali, atento, esperando um ruído qualquer (nunca chegava), até que eu larguei a preocupação e ficava só pensando naquilo que talvez Maria pensasse, mais uma vez – era um ciclo vicioso isso de tentar te adivinhar.
E pensava tanto, que minha cabeça parecia ser feita só pra pensar você, seus olhos, seu cabelo de cor indecisa, seu riso de canto de boca, o vestido que você odiava e eu amava quando você colocava só porque eu pedia. Eu rodava rodava rodava rodava e você sempre no mesmo lugar, e eu já não achava mais que tinha algo errado, tinha perdido essa mania de procurar defeito, acostumei com aquele ditado de que “quem procura, acha”, e resolvi que não queria achar era nada, queria mesmo era continuar assim, do jeito que tava, simples, amor escancarado, amava Maria, amava tanto e exposto, e calado, mas Maria tanto sabia que eu a amava, que eu não precisava dizer nada, Maria sabia, sabia tanto, amava muito, Maria Maria.
 Eu repetia todos os dias na cabeça a música que Maria tinha me mostrado, e quando ela não estava por perto, eu até me permitia cantar; cantava a parte que fazia “de noite na cama/ eu fico pensando/ se você me ama/ e quando”, e cantando eu pensava se você me amava, quando, que horas, onde, que lugar, me diz por favor, mas ninguém respondia. E aí eu pensava em quando te amava e via que era quase sempre – perto, longe, quente, frio, até mesmo morno eu te amava e olhe que eu nunca gostei de meios termos, mas Maria eu amava de todo e qualquer jeito, nunca amei mais ninguém igual quando amei Maria.
Maria, Maria, Maria, Maria, Maria. Eu te repetia tanto – dentro, fora: tantas repetições. Quando amei Maria não quis mais nada, Maria era casa, cama, comida, roupa lavada, vida, canto, melodia, vento, céu, mar, domingo no parque, Maria era tudo, Maria era eu, e eu amava Maria “porque era ela, porque era eu”, de um jeito incerto e exato, que nem Chico dissera num dos dias de 2006, explicando sua música de mesmo nome.
Amei tanto Maria, tanto desses amores in – infinitos, imperfeitos, inimagináveis, inesperados, amor amor amor amor amor amor amor, amor que nunca tem fim. Tanta repetição, mas era isso mesmo que acontecia: eu me repetia e não cansava, nunca enjoei de Maria.
Mas Maria resolveu que esse amor era muito, transbordava os corações, tanto amor não dava certo, ainda lembro dela dizendo que nosso mal era amor demais, explodindo pelas bordas, melando tudo ao nosso redor; e amor - ela dizia - quando é assim, machuca, porque tem que ter muito cuidado, é tanto medo de perder aquilo que – puft! –: perde-se.
QUANDO - essa palavra batia na minha cabeça feito martelo faz em prego. E penso sempre: quando amei Maria, amei. Amor lindo, doído, repetido – embora único. Quando amei Maria, não desamei.


Amar é um “quando” infinito, que quando se fala, subentende-se: amar não passa. Sem fim. Quando quando quando, amor amor amor. Quando amei Maria. 



17 de setembro de 2011

Aberto



Aberto, aberto, aberto, céu, branco, eu, você, tanta gente mais, meus amigos, os seus, quase os mesmos, tanta gente, eu, você, aberto, aberto, aberto, céu, nuvens abrindo, azul, alegria no ar, risos, música, carinho, aberto, aberto, aberto, sol, quente, eu, você, azul, aberto, aberto, aberto, você me dizendo coisas lindas, tão lindas, e de repente era tudo tão rápido borrado corria e já não tinha pausa nem vírgula alguma era tudo voando eu você sol céu quente azul você me dizia “meu bem te quero tanto” e eu dizia “que mentira quer nada eu que quero você” e você dizia “não é mentira e que bom que você me quer também porque eu te quero tanto meu bem te quero tanto” e você repetia e fazia “benzinho temos que ir o sol já ta caindo” eu fiz que sim com a cabeça e eu em pé te dei um beijo na ponta do nariz e você sentado me deu um beijo em cada coxa e aquilo era tão meu tão de verdade que eu queria poder gravar tudo queria que tivesse parado de correr, mas aos poucos foi diminuindo a velocidade, botando vírgulas, você já falava mais devagar, lembro que deu tempo até dos nossos olhos se encontrarem um pouquinho.



        Quando abri os olhos, percebi: era sonho – mais uma vez. Tava tudo tão rápido e bonito, mesmo tremendo a vida. Aqui, do lado de fora dos meus olhos, continua devagar. Só uma coisa continuava igual: aberto, aberto, aberto – meu coração e o céu. 

7 de setembro de 2011

SIM

"Toda rebeldia é falta — falta de dinheiro, falta de alimento, falta de amor, falta de carinho."  -Kalil F.
          
          Acho que o mal do mundo é falta de amor. 
          São incontáveis as guerras e manifestos em nome de um progresso mal planejado, tantas ideias regressivas - e todas buscando uma evolução reversa. Cadê a Revolução do Amor, que ninguém faz? 
 Eu com esses tantos amores no peito e essa falta toda por aí. Eu que me doo – de doer e de doar – tanto, não faço questão nenhuma de contribuir nessa mudança: se precisarem do meu amor inteiro, não hesitarei em dá-lo – aqui, em mim, o amor é monocultura que não desgasta o solo desse coração.
 Vontade de sair por aí jogando carinho ao vento, cheiro de felicidade no ar, plantando flores em corações, botando arco-íris no céu, sussurrando pra você e gritando para que todos escutem: 

- AMOR AMOR AMOR AMOR AMOR AMOR AMOR AMOR, por onde andas?


Espero pelo o dia em que ele responderá. Com sorte, será um daqueles sins bem ditos, como se o Amor tivesse sido chamado pelo mundo todo ao mesmo tempo - CHAMEM, CHAMEM, CHAMEM. 



19 de agosto de 2011

4 vezes amor



Amor é vento: 
brisa gostosa num dia de verão
e no inverno, tufão

É ímpeto planejado, 
coração trancado 
e escancarado, 
tentativa falida 
e por vezes esquecida

Bate suave, 
rasga a pele de leve, 
mete a mão no sentimento, 
se enche
e nos enche
de incertezas, exclamações,
bate-bocas e travessões






Amor é figura de linguagem
das mais complicadas
Mente e desmente,
engana e desengana,
diz e não fala,
ama e desama:
amor é antítese, 
paradoxo, 
passado e presente, 
tudo que nega e afirma,
tudo que se firma e desmonta,
todos os ventos do mundo de uma vez só

O amor me derruba feito furacão faz com casa, 
árvore, prédio, coisa fixa qualquer
Rouba minha estabilidade
pra poder aparecer de novo no dia que quiser,
assim, 
feito hoje. 

11 de agosto de 2011

Como se desse para gravar um sonho

         Vontade de rede, céu, mar, música pra alma. Um vento calmo, soprando bem de leve os teus cabelos curtos. Um passarinho assobiando amor ao nosso redor. Quatro olhos olhando para o mesmo horizonte e duas vozes dizendo de uma só vez:
      -  É meu.
     
       Ontem enrolei meus cabelos até pegar no sono.
       Às vezes acordo querendo ser tua e te querendo inteiro.



26 de julho de 2011

Sobre flores, ervas daninhas e mergulhos indevidos


 “Joga pra cima: se voltar, é seu”. Num dia desses, estas poucas palavras foram repentinamente lembradas e conseguiram prender minha atenção enquanto eu andava apressada no caminho de casa, querendo chegar logo nalgum lugar que pudesse trazer pelo menos um pouquinho de paz àqueles dias conturbados.

Já faz tempo que tenho essa vontade de passar. Queria te jogar pra cima, te deixar ir – e assim, me libertar também.  Mas meu coração parece que integrou você a mim, parece que você se camufla aqui dentro e não me deixa te achar – nem quer sair. Vai ver é essa estranha morada, que mesmo tão cheia de marcas, você adotou como sua. Coração instável, inquieto, incompleto, incansável. Coração tão cheio de “ins”, prefixos de ausência, negação. Coração esgotado, mas que você – sabe-se lá como – ainda consegue plantar alguma coisa.
 Ando tão cansada de ser pra fora. Mas ainda acredito que assim somos mais verdadeiros, justamente por possibilitarmos mais facilmente o toque, o “ser tangível”. É quase como se fosse possível pegar os sentimentos, tocá-los, sentir a forma mais pura, quente e simples. Cansada de ser teimosa, também. Porque pegaram meu coração, deram uns apertos, chegou a machucar, e ainda continuo querendo ser tocável; mesmo estando tão cansada que até chego a pensar, mais de uma vez ao dia, em me trancar do lado de dentro.
Preciso me organizar, jogar fora o que é velho e parar com essa mania de lembrança dos cancerianos; mas quando penso em ser pra dentro, lembro como, quase nunca, vale a pena ser tão pra fora. Gosto como tudo se torna tão intenso, de como você chega tão perto do meu coração. Não consigo desgrudar de nada, nem sequer de você, erva daninha que cresce junto às flores que cultiva com esse estranho carinho.
Eu é que não me deixo passar, e por essas e outras, tenho que tomar cuidado comigo mesma: é nessa de tanto me lembrar das coisas boas e filtrar as ruins, que acabo esquecendo a facilidade com que os que vivem pra fora têm de cair. Por mais que os momentos que quase nunca acontecem sejam mais importantes na minha contagem, preciso lembrar-me das quedas. E foi por isso que desisti de te procurar aqui dentro.

Fica, meu bem... eu preciso de você. Eu preciso me lembrar daquela euforia que senti ao mergulhar no rio dos teus olhos pela primeira vez.  Principalmente, eu preciso me lembrar o quanto doeu sair daquela água gelada e, ainda assim, ter coragem o suficiente de colocar o coração do lado de fora de novo.


2 de julho de 2011

Hoje eu quero ser azul

     Hoje chove.
     O dia me acordou fazendo frio, gelando os pés, mostrando seu cinza mais uma vez. Logo hoje que eu tanto queria um céu da cor dos olhos de Chico. Mesmo assim, despertei com pressa, mais acordada do que jamais consegui num dia tão gostoso. Acordei com vontade do mundo, confete em todo lugar, euforia em toda e qualquer coisa que faça. Hoje não tem espaço pra melancolia, tristeza, cansaço, arrependimentos ou seja lá o que for que me deixe pra baixo.
     Hoje será turbilhão e calmaria, gritaria e silêncio e todas as contradições num dia só. Será eu.
     Quero passar correndo voando sem pausa alguma com muita muita muita alegria mais do que aquela que hoje brotou aqui dentro tão de repente quero que passe lindo rodando com todas as cores no céu quero que esse dia seja meu.


     Meu dia será azul e passará do jeito que eu quiser: hoje eu decidi a cor que eu quero ser - e não é cinza.

23 de junho de 2011

Passarinho

Acordei passarinho
e resolvi continuar
Pessoas, presságios e passados:
hoje só quero voar


O céu e suas cores
só me verão passar 


16 de junho de 2011

Cinza


       Você sempre gostou tanto dos dias cinza, que deve ser por isso que me visita nessa época. Vai ver que esses dias escuros, chuvosos ou meio nublados, foram feitos para pensarmos mesmo. Bate uma saudade fina, guardadinha nos restos de uma lembrança quase esquecida, sobrando no fundo de um copo. E, inevitavelmente, nesses dias, tudo volta: você, suas lembranças malfeitas, tudo que tenho para dizer e calo, tudo que faço e escondo, tudo que grito e não quero dizer. Nos dias cinza, pensamentos vão e voltam; correm de um lado para o outro, flutuam, voam num piscar de olhos, mas sempre param na mesma coisa.
        Tanto sentimento, tanta palavra, tanta história, tanta invenção, tanto de tudo, por que sempre para na mesma coisa? Tanto já se passou, sentimentos já trocaram de lugar, por que você ainda me dói? Eu só queria continuar. Acabar de vez com essas perguntas, colocar um ponto final, ter pelo menos uma certeza. Essa história de ficar parando em cada ponto e ter que recomeçar e recomeçar e recomeçar e recomeçar e recomeçar, tá me deixando cansada.
        Vai ver, no fundo, num canto bem escondido, exista uma explicação. Talvez eu goste mesmo dessa busca toda, desse procura-e-não-acha, dessa mania de me jogar num mar desconhecido e me afogar. Ou só esteja cansada demais para desacreditar de uma vez por todas, e, continuando no mesmo pensamento, “por que parar agora?”. É verdade que devagar não se vai longe, mas antes recomeçar inúmeras vezes do que não começar vez nenhuma, certo? Espero que assim seja – e sei que esperas também.
Nalgum momento, alguém de verdade aparece. Tem que aparecer. Afinal, as coisas podem dar errado o tempo que for, mas chega uma hora em que têm que dar certo. Não sei quando nem por quanto durará, mas em algum momento, por menor que seja, tem alguma coisa que dá certo. Aprendi isso no dia que te conheci. Chovia, era cinza, você me disse que gostava de dias assim, disse que nos fazia pensar. Desde então, guardo nítida essa e tantas outras lembranças suas. Malfeitas, borradas, indevidas: guardo todas. Você deu errado. Mas não poderia ter dado mais certo.
            Dias cinza dão certo. Você deu certo. Meu coração é que nunca dá. 

30 de maio de 2011

Invasão

Parece até que minha memória é porta,
pra você ficar batendo nela.
Vez ou outra me aparece com essa sua cara
e eu preferia não ter que lembrar de nada,
apagar pedaços,
queimar esse filme que passa bem na hora que vou dormir.


O problema é que memória é a dor do coração:
ela lembra,
ele é que sente.


Mas olha,
eu só queria dizer que fico aqui enquanto restar tempo.
Enquanto restar coração,
sentimento,
vontade,
e um pelo menos um pouco de mim.


16 de maio de 2011

Agridoce

        


      Mania insuportável essa que o ser humano tem de querer descrever tudo; de querer saber falar sobre cada mínimo detalhe, cada gota de sentimento e cada cicatriz que um coração tenha. Mania de querer ouvir palavras - e que sejam as três mais pedidas, se possível. Esquecemos que somos feitos de instantes, e, clichês à parte, palavras não apagam nada do que foi vivido. Pois bem, é aí que você entra. Você e essa sua mania – pior do que a minha – de querer entender, de botar palavra, de tentar explicar.
        Longe de qualquer estereótipo, você chegou. E fomos mais do que dois: fomos um nó apertado, bem amarrado. Até que um dia esse nó começou a te sufocar, e, de repente, você já tinha se soltado. Parecia que o sentimento não bastava. Você queria mais, embora também quisesse menos. Nunca te cobrei nada, talvez porque não quisesse ser cobrada, não sei. O que sei é que ainda escuto você aqui dentro. Nosso tempo passou, mas você ainda faz barulho.
        Vez ou outra você aparece com essa sua mania de jogar palavras em mim, querendo mexer comigo, querendo que eu diga o que eu sinto. Mas eu não sei dizer, e não tem palavra nenhuma que consiga explicar o que um coração sente. Por que você simplesmente não aceita o que fomos? Uma vez na vida, sem explicação, apenas o sentimento. O nosso sentimento. Aquele, sem conceito algum, a não ser pelo rabisco de duas palavras que tentava definir o que se passava dentro de nós.
 O problema é que você conseguiu me contornar tanto e inúmeras vezes, que acha que pode fazer novamente. E aí eu preciso me comportar quando você está por perto. Preciso me controlar, dizer que não e parar com aquela coisa de se deixar levar, porque senão você me contorna mais uma vez e eu vou querer te rasgar, te explorar, te conhecer melhor cada vez mais. Você vai voltar a ser meu livro preferido e eu vou querer inventar capítulos e mais capítulos, todos os dias. E depois vai acontecer a mesma coisa: você vai querer ir embora, eu vou ficar aqui, vou te perder, te achar, te encontrar mais uma vez e lá vem a mesma história de novo de novo de novo de novo de novo... e eu ando tão cansada de repetições.
Num dia desses, me peguei definindo você - ou atitudes suas, sei lá. Vai ver essa coisa de convivência faz a gente pegar um pouco das manias dos outros -, logo depois de conversarmos. Lembrei de tanta coisa nossa. Flores, cartas, anéis, presentes, músicas, guardanapos, confissões e outras lembranças. Lembrei que um dia você me pediu pra definir o seu beijo. Não sei se falei o que realmente acho, mas ele sempre foi apressado, quente, intenso... como se fosse escondido. Um instante com gosto de sempre.
Se você tivesse me perguntado agora, daria sorte. Em epifania, finalmente descobri a palavra exata: agridoce. Você e seu beijo. Indeciso entre o doce e o ácido, você é os dois, simultaneamente. Talvez por escolha, autoproteção ou, simplesmente, por não ter conserto.
Só queria que você soubesse que quando penso em você com o meu coração, algumas perguntas se respondem assim, facilmente. É involuntário, como as batidas taquicárdicas dele.


 Será que você sabe?  

28 de abril de 2011

O silêncio

        
        
Você saiu batendo a porta, praguejando alguma coisa, reclamando de mim. E eu fiquei olhando você ir, sem poder fazer nada, sem conseguir sair do canto. Você tava tão linda dizendo aquilo tudo pra mim. Gritava com raiva e doía ouvir, mas eu ouvi cada palavra que saiu da sua boca, fascinado. Tudo passava devagar e enquanto você andava, seus cabelos pulavam de acordo com seus passos e seu vestido parecia sambar – de um jeito meio aborrecido – no seu corpo. Eu não consegui parar aquilo.
        Maior do que a dor de te ouvir dizer que tinha acabado de vez e que nada ia te fazer mudar de ideia nem mesmo se eu fosse correndo atrás de você, foi não conseguir sair do lugar. Eu simplesmente não consegui gritar o teu nome, pedir pra você ficar ou produzir qualquer gesto desajeitado que tomasse a tua atenção por alguns segundos. Meus olhos te acompanhavam e eu te via cada vez mais longe. Eu queria ter dito tanta, mas tanta coisa... só que nada saía. Onde mais eu ia arrumar palavras, quando todas tinham me sumido em plena madrugada?
            Eu não conseguia ver nada mais do que seu vulto, agora caminhando tranquilamente, na beira do mar. Você molhava os pés e olhava para baixo, quieta, longe. Eu tinha tanto pra te dizer. Tanto, tanto, tanto. Eu pensava em você, em nós dois, em cada momento que passamos juntos e era tudo tão transparente, tão nítido. Mas eram apenas lembranças batendo forte na memória – e batiam com tanta força que minha cabeça doía, espalhando ainda mais a dor pelo meu corpo, me fazendo sentir por inteiro a sua perda - e agora eu estava sozinho, com minha paralisia e o mar.
            Eu sei que você queria ter ficado, mas também sei que você não aguentava mais a minha teimosia de sempre, a minha mania de desobediência com a vida. Eu queria que você tivesse ficado ali comigo, pra que a gente pudesse ficar colado, como sempre fazíamos. A gente tinha essa mania de viver apertado, grudado, completando a metade que (antes) faltava um do outro. Mas do que eu mais vou sentir falta serão seus olhos implorando aos meus pra olhar lá no fundo... é que quando eu olhava, nunca me arrependia. Eu adorava olhar bem lá dentro e te ver. Adorava sentir seu coração voando, batendo rápido, quase saindo pela boca. Adorava quando te fazia sorrir com qualquer besteira; você ria tão fácil, sem sombra de dúvidas, verdadeiramente. Eu te adorava inteira. E é disso que eu mais vou sentir falta: você.
            Dentro de mim, só passa o seu filme. Mas a gente acostuma. Em alguma hora passa – tem que passar. Agora, somos essa saudade que não cessa, que parece nunca esgotar. Só espero que você não esqueça o quanto fomos doces e como fomos duas vidas que se preencheram tão facilmente, sem esforços.
          
            O mar silencia. As ondas quebram em meus olhos.




12 de abril de 2011

Contradição

            Digo que não. Que nunca mais quero te ver, que não quero mais nada que venha de você, que não quero ouvir sequer uma palavra que saia dessa tua boca, que não quero mais nada, nada, nada. Digo não pra qualquer abraço, beijo, olho, rosto colado, nariz, boca, queixo, orelha. Nós juntos, jamais, mais nada, digo que não quero e que seja ponto final pra você.
            Mas me entenda: eu quero tudo e de todos os jeitos. Quero te ver sempre sempre sempre - sem vírgula nem pausa, que é pra durar mais mesmo - e o que vier de você eu tô querendo. Quero abraço, beijo, olho, rosto colado, nariz, boca, queixo, orelha... nós juntos, cada vez mais. Ao invés de não, quero sim. Sim, sim, sim, sim.
            Eu queria que você entendesse de uma vez que eu sou toda ao contrário, invento palavras, troco significados, grito pro mundo que não quero que ninguém chegue perto quando o que eu mais quero é carinho. Se você quiser, te deixo ancorar o barco. Acalmo esse mar, arranjo um espaço, te amarro com todo o cuidado no meu cais. Mas você precisa saber que aqui dentro tá tudo virado de ponta a ponta e que eu preciso arrumar antes de você chegar.


           Não preciso de mais ninguém que venha pra cá só pra fazer bagunça, desarrumar e deixar tudo de cabeça pra baixo.


          
           Mas se você vier mesmo, deixa pra lá. Ignora minha mania de contradição e lembra que com você eu fico do jeito certo. Paro com o não, começo com o sim, sem contrariedades, só a palavra pura, dizendo o que ela sempre quis dizer. Sim, sim, sim, sim. Não vai me importar bagunça nenhuma. Eu quero mesmo é que você venha, ancore seu barco, more em mim, me desarrume inteira, fique. Mas venha.


           Só direi sim. E tenho dito.

29 de março de 2011

Respire fundo



Nas minhas veias corre uma tinta
que imagina
ser sangue

De enxerida, instalou-se em meu coração
e lá dentro pinta e borda

Entre suas obras,
desabotoou meu coração
e aberto,
qualquer um pode ver:
ele transborda
Por mais que eu não queira
ou tente segurar,
tinta escorre pra todo lado

Meu coração, borrado
inventa de querer ver tudo colorido
Se esquece que tinta gruda
Lava,
esfrega:
não sai
Impregna, feito saudade
daquelas que não se consegue arrancar
nem com mil litros de água sanitária

Me faz respirar fundo
e aí
.
.
.
flutuo
.
.
.
mas depois caio

Coração bate forte
no chão
Faz tumtumtumtum
rápido rápido rápido rápido
tumtumtumtum
mal
tumtumtum
consigo
tumtum
falar
respirar

Bate:
saudade,
coração
Tinta pinta,
botão não fecha:
tudo de novo
(dessa vez começa colorido) 

12 de março de 2011

Retrovisor

Ouvi dizer que não se espera, que amor só vem quando bem quer e pouco importa o desejo de cada um. Mas é que às vezes, vira e mexe, você aparece de novo. Numa música, lembrança, foto, sei lá... qualquer coisa. Nunca esperei muito de você. Nunca sequer pude esperar nada. Foi tudo tão corrido, de um jeito tão bobo, e pronto: eu já queria poder te guardar nos meus braços. Para sempre, por algum momento, por um dia ou duas horas. Eu só queria ter te guardado um pouco. Eu quis te ter. Quis. E quis tanto, tanto, tanto. Mas você não quis que eu te quisesse. Não quis ver meu mundo, conhecer melhor o que se passava por dentro de mim ou tentar entender porque eu ia embora e acabava voltando atrás. Talvez você tenha tirado uma conclusão. Eu não. Nunca entendi muito bem porque tudo era tão rápido, que eu mal podia enxergar; era tão borrado, eu só conseguia ver você e mais nada. Não tinha razão. Sem sentido, só sentimento... eu nunca via a explicação.


Calo. Folha em branco. Cabeça vazia. Só consigo ouvir o meu coração bater. Oco. Um quase silêncio se instala do lado de dentro. Nada. Mas aí começa tudo de novo e lá vai minha cabeça com seus infinitos pensamentos e perguntas sem resposta.


Parece que tudo que existe faz questão de não ter sentido. Inclusive eu, você. Nós. Quis tanto que tivesse dado certo. Que tivesse dado em alguma coisa. Que você tivesse me mostrado seu horizonte, e eu, as cores do meu céu. Que você tivesse conhecido minhas músicas preferidas, e cantaríamos juntos, como se elas se tornassem suas também. Queria que você tivesse invadido ainda mais o meu espaço, sem licença nenhuma mesmo, eu não me importava: eu só queria que você ficasse. Mas você foi embora.
Lá fora, o tempo passa sem você. Retrovisores refletem os caminhos andados, o que ficou para trás. O meu retrovisor não passa nada, continua parado, no mesmo lugar. Eu, retrovisor, você, silêncio. Preciso ir embora.
No começo é assim. Pode durar mais, menos, muito, pouco, demais ou quase nada, mas passa. Aos poucos vou andando. Tento andar sempre, por mais que me doa ter que te deixar passos e mais passos atrás de mim. A gente tem que seguir. Devagar, ando. Meu retrovisor começa a te refletir no canto, lá longe. Dói. Mas vou.
A gente erra muito. Chora, se arrepende, machuca, faz drama, toma decisões erradas. Mas chega o dia em que a gente aprende a fazer uma coisa sensata. E faz, mesmo que seja só uma. É difícil, mas a gente tem que deixar o retrovisor refletir o passado. Já passou... a gente é que tem mania de não deixar passar.


             Dói. Mas vou.