25 de junho de 2012

Das cartas sem destinatário


Precisava te escrever alguma coisa. Por mais que eu nunca te entregue essas cartas que ainda teimo em fazer; por mais que a gente não se encontre no mesmo caminho. Eu quero te lembrar sempre, mesmo que seja por uma dessas coisas que te escrevo antes de dormir porque preciso te colocar pra fora de algum jeito para que eu não passe mais uma noite inteira com você dentro da minha cabeça. Já faz tanto tempo, e tudo continua sendo teu aqui. Sinto tua falta quase todos os dias: me preenche e nunca me deixa em paz. A gente nunca sabe o que se passa dentro do outro... e talvez continue sempre assim. Mas não minto: bem que eu queria poder entrar em você e ver com teus olhos, me sentir na tua pele, tentar decifrar tua mente, e fazer qualquer coisa mais que eu possa estando dentro de você. Eu quero te lembrar porque você me dói. E dor de amor, benzinho, talvez não passe nunca.

Com todo o amor que eu gostaria que já não existisse mais dentro de mim,
                                                                                                                      Aline.


17 de junho de 2012

Sobre domingos e minha mania de água

Domingo me mete o maior medo. Se eu já penso muito - talvez até demais -, não queira nem imaginar o tanto de coisa que passa pela minha cabeça num dia em que eu não faço nada. Sem falar de hoje, especialmente: nublado, com chuviscos o dia inteiro, vazio, parado no tempo. 
Dias assim me deixam aérea. Voo longe, me perco dentro de mim. São tantas perguntas sem respostas. Tantos rostos, corpos, olhos, corações. Tantos lugares, esconderijos, mentiras e coisas velhas, guardadas de todo jeito. Tantos eus espalhados por aí. Tanto de nós que se foi. 
Gosto muito de chuva. Rega meu jardim, cuida do meu interior e faz crescer (não sei mais pra onde) meu coração. Lava minha alma. Leva embora o que já não me pertence mais. E peço, sussurro, rezo: que chova mais em mim. E que dias assim - por mais que me baguncem completamente por dentro – se repitam mais vezes.

A cor do amor é cinza.



5 de junho de 2012

Borboletas incontroláveis

Tem gente que acha que sente mais do que pode. E tem medo, se esconde, se guarda. Pra quê? Pra quem? 
 Tem gente que acha que a gente inventa o que sente, que aquilo dentro da gente é mais coisa da cabeça do que do coração. Pois eu não: eu sinto, e sinto muito. Às vezes dói, marca, machuca. Mas sinto, e não é invenção nenhuma: é alguma coisa que acontece bem lá no fundo, e cresce. Cresce tanto tanto tanto, que sempre transborda do meu peito. Me fura, pra poder fugir pro mundo. E sai de mim, foge do meu controle. Abraça a tudo e a todos que estiverem por perto. Cria raízes por aí - insiste numas ervas daninhas também - e quer se plantar em qualquer lugar.
           Isso é amor, fruto do meu pé-de-coração; da minha planta carnívora guardadinha no peito, ao alcance de quem quiser se arriscar. E isso, benzinho, a gente não inventa nem quando quer. A gente só sente. E daí a gente resolve se vai ou não soltar as borboletas que surgem no nosso estômago pelo jardim do outro.

Eu gosto de soltar minhas borboletas, mas tem gente que ainda tem medo de passear pelo jardim que me envolve. Eu, ainda assim, me arrisco por aí. E vou. O caminho é longo, mas sempre pode ficar mais bonito.