22 de dezembro de 2013

17 de dezembro de 2013

COCOON

gosto do som dessa palavra em inglês
mas em português
é só um casulo,
nulo

quase como esconderijo
quimera fosse abrigo

pro meu coração pupa



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27 de novembro de 2013

Absorta


Imersa em ti
e alheia de todo o resto,
te vejo passando
por detrás dos meus olhos


Ver-te no verde
Sorver-te nos cachos dele
Absorver-te nas diversas características
                                                    [as mais opostas
                                                    [e iguais
                                                    [daquele outro

Resumir-te,
como que numa troca,
sem nenhuma explicação

SUMIR:
fazer-te desaparecer
te trazendo pra mim


Lembrar teu som,
teu riso,
teu carinho
.
.
.

E ser teu dengo 
no extravio dos meus pensamentos 



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10 de novembro de 2013

Contrações e contradições


O coração
O vazio
A dúvida
O amor

A divisão de mim
                        refletida nos outros

A mão treme, a caneta escorrega
        A indecisão constante e acelerada

Preciso me contrair inteira
para esvaziar-te de mim:

sístoles

desse meu coração pretérito,
seco ao sol,
passado

Preciso afrouxar as manias,
deixar fluir,
dar preferência à minha origem líquida,
escorrer, preencher:

diástoles

o coração enfraquece
e fortalece
nos intervalos de tempo





28 de outubro de 2013

Reverberações

Teu reflexo
já não me causa nós: 
tudo foi desamarrado de mim

Nem tua luz nem teu calor
continuam por perto
Só teu brilho,
que reflete batendo dentro do meu olho
e da minha alma

O único laço
é todo feito de memórias
TODAS ELAS
reverberam fortemente aqui dentro
(nem que de vez em quando)
- e, eventualmente,
escorrem pro lado de fora, 
juntamente com os gritos
ou sussurros
de uma canção qualquer

(qualquer música
que eu invente de cantar
vem acompanhada 
desse teu rosto
imbecil) 


foto de Laís Lacerda Vareda
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22 de outubro de 2013

Conselho calado

olha, menino, 
eu se fosse tu,
tomava cuidado com essa mulher
tu brinca de mergulhar nos olhos castanhos e pequenos dela,
como se nunca fosse se afogar
tu brinca de achar graça nos rodeios que ela te dá,
como se não quisesse ir direto ao ponto
tu brinca de deitar no chão e deixar ela passar por cima,
como se nada te machucasse
olha, menino, cuidado,
que mulheres,
principalmente dessas geminianas,
são indecifráveis demais
tu não devia deixar essa menina
brincar com teu coração,
que isso é dessas coisas quebradiças demais
olha, eu se fosse tu, 
tomava cuidado com essa menina-mulher-em-construção
porque de coração quebrado, menino, 
a gente já guarda caco demais

em fevereiro de 2013


3 de outubro de 2013

EU:

redundante, tautológica, pleonástica
repetidarepetidarepetida
excessiva em inúteis repetições:
mesmas memórias,
mesmos ciclos, 
vai-e-volta
perissológica
e sem lógica nenhuma

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16 de setembro de 2013

Esclarecimento para os de fogo

Eu sou água:

Evaporo e sumo - ou me deixo ser guardada nalgum canto
Escassa e exagerada, líquida e sólida, fria e quente
Doo, a mim e em mim – seja por mudança ou presença, seja por transformação ou estagnação, seja por necessidade ou não.
Corro, escorro, caio: só paro se congelada – mas aí já é prisão.
Tal como água, só sirvo se limpa: que seja claro.
Odeio poeiras:
incertezas, inseguranças, indecisões, imprevisões, ins quaisquer que me trazem a confusão - que já tenho em mim e que só faz crescer com os outros. 
EU SOU ÁGUA: 
         apago-te 
         ou incendeias logo tudo de uma vez. 
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31 de agosto de 2013

Fim de agosto


Últimos minutos. Toda vez é isso: INterrogações.
As lembranças passam correndo na cabeça: filme malfeito, errado, não escolhi assim.
As palavras reverberam feito sol de meio dia botando fogo no corpo inteiro.
Os olhinhos, meu bem, sempre mais claros do que nunca, sempre daquela luz do dia clareando cedo.
Permanecem as dúvidas, os infelizes traumas e mágoas, o medo de escolher o caminho.
Me encho mais ainda de imagens passando pelas retinas, as telas de projeção do coração. Toca "queixa" do lado de fora. Está escuro, de claro só minhas imagens do lado de dentro de mim, onde tem esse corre-corre, essacoisasempausa essas imagens borradas tudotãorápido que eu quase não vejo mais nada direito tudo passa correndodemais e eu nãoentendomaisnada sóconsi gosen  tiresentir dói: mas ainda conta.
Sentir o que é velho, sempre, apesar da capa de coisa nova. Sentir é esse meu sentimento antigo, talvez mais velho do que eu – sabe-se lá como, talvez ele tenha nascido antes de mim -, esse sentimento antigo que só faz trocar de pele. De peles. São sempre as mesmas memórias repetidas e esquecidas cronicamente; são os mergulhos em diferentes e iguais poças; é jogar-se na vida como criança que ainda está aprendendo as consequências para suas ações, e repeti-las sempre, apesar da dor e da agonia do erro.

Memórias morrem na nossa retina, nós morremos na retina. Mas ainda conta: o coração continua batendo descompassado e desesperado pelo outro que também se esquece e nos esquece só pelo propósito de acontecer de novo. 


16 de agosto de 2013

Morada

                      

       O amor mora           naquele que se faz casa
  em cada olhar 


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18 de julho de 2013

Sideral

O silêncio da noite
no interior
decifrado no preto do céu
mesclado com os incontáveis pontos brilhantes

Tua estrela,
aquela que te dei
e desenhei troncha
no contorno dos teus sinais,
tua estrela
estava lá:
longe dos meus olhos,
inalcançável,
mas imersa
- lá em cima
e no fundo escuro
e inatingível
de mim


(in)atingível:
in:
dentro:

entre.
me ache.
mergulhe.

imagem de Erika Kuhn
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2 de julho de 2013

Queda

Jogar-se
ou desabar

Mergulhar no chão,
no mar,

ou no outro

CAIR
como uma criança
que rala joelhos e cotovelos
e num instante depois
esquece 



fotos de Fernanda Rappa

27 de junho de 2013

Dias de chuva e correria

Tem dias que a gente só precisa de gente do nosso lado. De alguém que diga qualquer besteira, qualquer coisa boa, qualquer coisa que mova um riso, qualquer coisa seja qualquer coisa, que seja bonito, que deixe um sopro leve no peito. Tem dias que a gente só precisa de quem saiba limitar nossa loucura, de alguém nos guie e nos dê um pouco de luz nos tempos maus. Tem dias que a gente não precisa de nada nem ninguém, mas a gente nunca quer. O silêncio nos deixa a sós com nossa mente imparável. Pensar dói e sentir o peso de todas as coisas, mais ainda. Qual será o verdadeiro som que o silêncio faz? E eu achando que sabia dessa resposta, como achava que sabia tantas outras. Eu sou tão pequena. E a vida também: passa correndo, voando em saltos no tempo. Eu, tão pequena. E a gente? E as gentes? E nós? E os nós? E os laços? 
Eu acho que tem dia que a gente só precisa de um cafuné.
(ou de qualquer sentimento de verdade).

2 de junho de 2013

amaromar

essas ondas que nos derrubam
e nos engolem 
nas estaladas de sal e areia 
esse cheiro,
esse balanço que o mar nos dá
essa possibilidade de flutuar
ou afundar
essa vontade de mergulhar
:

amor é maresia


fotos minhas

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12 de maio de 2013

Céu da boca


Como quem quisera uma vez determinar o futuro
e descrer de quaisquer outras possibilidades
que não a das estrelas,
teu lábio é astro:
projeta a certeza mais incerta das visões astrais
e das superfícies planas de um rosto,
como o astrólogo antigo
ao usar o astrolábio,
girando os globos e os céus,
para demonstrar o fenômeno celeste
do encontro de almas


10 de maio de 2013

EXPLODIR

      Tanta coisa na cabeça que não tem fim não tem tamanho não tem pausa apenas mais e mais pensamentos e conexões e possibilidades e quando é que isso tudo vai parar e será que a cabeça aguenta e o coração aguenta também e se a gente explodir e se a gente parar e se a gente correr demais e não puder ver mais nada e se a gente estragar tudo onde é que moram tantas perguntas para onde vão os pensamentos que são esquecidos será que podem caber tantas lembranças dentro de uma pessoa só e se a gente cansar e se a gente se esgotar e se a gente nunca parar



.
.
.


Quebra de pensamento, mudança de fluxo. Mas e o que eu quero agora? Será que sei? Por que sempre existem tantas perguntas dentro de mim? 
Eu queria ter certeza das coisas.

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23 de abril de 2013

7 vezes pra dar sorte

arianos arianos arianos arianos arianos arianos arianos 
eterna relação
de amor e ódio
entrega e medo
fogo e calma:
carma

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15 de abril de 2013

Inexplicável


Batida imprevista e indizível de um coração com o outro
ou dessas coisas violentas dentro da gente:
solavanco da alma 
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8 de abril de 2013

Dos amores e verbos


Embrutecer-se,
tecer corpo, alma e coração juntos
Brotar em si o bruto,
construir paredes, 
fortaleza corporal e interna
Esquecer das flores, do céu, do mar
Enxergar cinza e alto,
como os prédios da cidade
Deixar ir as coisas passadas
e amar apenas o que restar,
ainda que nos poços mais fundos de nós mesmos
- e falhos, como tudo que é humano
Embrutecer como quem escolhe esse caminho
não porque quer,
mas porque precisou
e teve que catar a coragem
(aquele milésimo de segundo de coragem)
para seguir de pé firme com a decisão
Ir-se embora 
e se endurecer de si mesmo,
invenção como que num piscar de olhos, 
como que na contradição do tempo: 
demora-se tanto e pouco, ponteiros param e correm
do mesmo jeito que o amor nos fere
e aos trancos,
embrutece 


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17 de março de 2013

ciclos


Surge,
fura,
entra.

Faz moradia,
constrói o lar.

Dá-te um travesseiro,
te cobre com o lençol dele.
Diz umas palavras bonitas pra gente gravar na memória
e doer depois. 

Dorme,
acorda,
ama.
Come,
vê tv,
ama mais e outra vez.

É casa, é morada
Mora-se no sentimento,
naquilo que foi projetado.

Fura de novo
e entra mais
mais
mais
mais
ais
ai
e
sai.
Vai.

Fica
o que foi projetado
o que foi lar
o que foi lençol
o que foi junto
o que foi palavra

Fica
o que virou buraco,
quando só existe a falta

Fica
o que foi amor
.
.
.

Surge,
fura,
entra.

Acolhe,
acrescenta,
mora.

Estraga,
bagunça,
dói.

Vai embora.

- e a gente espera a hora
em que vai começar tudo outra vez

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12 de março de 2013

9 de março de 2013

É uma carta, mas não de amor


 Acabei de ler uma coisa que me lembrou você, bem na metade do caminho, quando eu já vinha escrever qualquer coisa, de qualquer maneira: “não procure a pessoa mais brilhante do mundo. Encontre aquela que te ilumina aos poucos, em alguns momentos. Quem brilha pra sempre, já morreu”. Piegas, eu sei, mas todas as cartas de amor são ridículas - não que essa aqui seja uma. Eu só queria dizer que tô cansada. Vivo cansada, só não me dou conta. Quando percebo, vejo que minha vontade é de abrir meu corpo, como se tivesse um zíper mesmo, e sair dali, migrar pra qualquer outro corpo, qualquer um mais agradável, mais desconhecido. Ou me enterrar junto com minhas memórias dentro de uma caixinha e virar lembrança também. Quando noto, assim, às vezes, minha vontade é de sumir, desaparecer. Ver gente nova, poder fazer diferente. Será que existiria a falta? Será que alguém sentiria a minha? Será que a saudade ainda viria bater nessa porta perdida pelo mundo em que eu me encontraria? Eu queria abrir o zíper de mim e jogar o coração fora. Pronto. Talvez aí se resolvesse. Não, teria que jogar fora as memórias também. E agora? Sobrara-me a luz. o que faço com isso? Você ainda brilha aqui dentro. Vezenquando, é verdade. Mas não se joga luz fora, com o que mais se iluminariam as coisas? Mas aquilo que brilha para sempre já morreu. Você é estrela infinda no céu do meu peito: morreu, mas ainda brilha, escondida nos cantos de mim.


24 de fevereiro de 2013

Do português: permanecer, parar, deter-se

Quedar-se:
quem dera fosse de cair,
quem dera significasse 
minha queda em ti

Quedar no tempo:
ficar grudada em ti,
naquilo que sobrou de nós,
naquilo que teimo em juntar os pedaços

Permanecer na tua mente
no teu coração
em toda tua alma
e carne

Quedar-me em ti
por completo

Querer dar-me ao amor,
deter-me apenas em ti
e no sentimento

Quedar tua queda em mim,
quedar minha queda em ti:
guardar-te



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14 de fevereiro de 2013

Somos instantes

       Somos minúsculos pedaços de acontecimentos que se repetem continuamente na vida. Somos memórias. Somos esse filme velho que vemos passar todos os dias pelas ruas, calçadas, ônibus, casas. Somos partes pequenas e ambulantes que andam procurando um destino. Somos instantes que se somam. Nascemos do moer e remoer dos momentos. E nascemos, assim, cada vez menores, cada vez mais insignificantes, cada vez mais moídos de nós mesmos, como a areia que virou pó quando antes era pedra, mas continuando necessária também. É preciso buscar o que se busca e andar desse nosso jeito desandado para ser o que se é. Somos o mundo dando voltas, o coração batendo em cada quarto vazio, o olho cansado de repetir as mesmas memórias, o passo que dança o que se sente. Somos os instantes que construímos com os outros grãos que se encontram na vida.



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22 de janeiro de 2013

Quero ser andorinha


Constantemente tenho vontade de sumir. Queria desaparecer no mundo como quem tomou chá de sumiço, como quem não tem mais laço nenhum com nada nem ninguém. Mas logo desisto. Sou apegada demais. Canceriana demais. Crio laço com tudo. Eu e essa porra de mania de passado. Essas manias inúteis de laços e nós e enfeites entre as pessoas. Quero mais não. Tô cansada. Quero ter a coragem de ir. Quero ser andorinha e voar sem compromisso por aí. Migrar, somente. Ir embora para poder voltar.



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19 de janeiro de 2013

I'm lost in my old, in my own green light


Eu gosto do amor quando ele me derruba ou quando me faz voar. Se não for assim, não quero não. Não vale a pena. Nem sequer é amor.
Amor é quando a gente flutua devido à leveza do sentimento que nos preenche de tudo. Amor é quando a gente dói por qualquer besteira, porque ama tanto e concentrado em cada pedaço do corpo, que dói de bonito que é. Amor é quando a gente transborda, seja praquilo que é bom ou ruim. Amor é aquilo que eu sinto falta de sentir. 
Saudade do amor dos domingos ensolarados ou chuvosos, mas sempre debaixo dos lençóis vendo filmes. Saudade do amor escrito e lido nos olhos do outro, sem precisar de tradução nenhuma. Saudade do amor da dança dele, de ver uma alegria fácil naquilo. Saudade do amor criado pelo pescoço, sinais e coxas. Saudade de tanto, de tudo. 
Amor é aquilo que me desconcentra dessas coisas da vida, que me bota num rumo forte, que me traça uma coisa só e aquilo é. Eu sinto falta da bagunça que o amor me causa. Ultimamente eu tô bagunçada do meu próprio jeito, dessa minha mania de doidice mesmo. Tô perdida de mim mesma, da minha maneira, das minhas coisas. 

Me perco dentro de mim e sempre esqueço onde fico.
Talvez no nó da garganta. Ou no da tua orelha.


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15 de janeiro de 2013

Teus girassóis

Teu girassol cresce
dentro de ti
e floresce
dentro de nós

Gira teu sol-coração
e nos ilumina,
sempre




para Julia