23 de fevereiro de 2011

Vontade

     Estranho ter que conviver com esse teu eu. Esse teu eu que para mim é novo... e que sempre continuará sendo. Difícil. E o maior problema é ter que olhar nos seus olhos, me ver bem lá no fundo, no canto, escondida nalgum lugar - não sei se só na minha cabeça, mas eu me vejo lá - e não poder fazer nada. Te toco, deito-me em teus braços... meus olhos fecham e o nosso filme passa (de novo). Sempre passa. Saudade. Não faz mais isso comigo! Você não tem noção da vontade que me dá de te dar um beijo e de te chamar de meu... meu, meu, meu, meu, meu, meu. Meu! Você me dá vontade de me perder nas minhas palavras, meus atos (ainda mais!), gestos mal calculados... tudo, tudo, tudo. Você não tem ideia do quanto que você me faz querer me perder em você. E pior: acabo me perdendo.



originalmente postado em: http://dontgetout.tumblr.com/

18 de fevereiro de 2011

Chove por aqui

     Não sei o porquê de tanta chave, cadeado ou qualquer outra proteção, se no final das contas tudo é invadido; se chegas assim, sem avisar, e te aproximas como quem nada quer e fica por aqui mesmo, pouco ligando para o aviso de “não perturbe”.
     Pra que tantas máscaras, fantasias e contradições, se o carnaval ainda nem chegou? Te projetaste de tal maneira para mim que é difícil de te tirar daqui - tu sabes o quanto custa ter que diminuir um sentimento dentro da gente para que ele ainda possa existir num cantinho isolado, guardado como se fosse um poema. Por favor, não me venha com esse seu fingimento de arrependimento, muito menos com essa sua saudade forçada… nada do que você falar vai mudar o que decidi. Para de mentir. Mentir para mim, para você. Aceita. Acredita que existiu - que ainda existe - um carinho tão grande que não coube mais em mim e que teve que explodir para os lados, mas não aguentaste e tiveste que ir embora. Eu quis que essa fosse a história. Nunca quero perder esta versão: você chegou do nada, te amei, me amaste, nos amamos, deu no que tinha que dar e no que não tinha, mas passou. Nosso tempo se foi, escorreu pelas mãos, pelos olhos. Te encontrei, te perdi, te achei novamente e perdi de novo. Fomos nós. O tempo passou… continua passando agora.
     Passa. Passa. Passa. Passa. Passa. Passa. Passa. Passa. Passa. Passa. Passa. Passa. Passa.  

    Por aqui ainda fará calor, flores brotarão, as folhas de minhas árvores cairão e o vento nunca irá parar de soprar. Não te esqueces que por aqui sempre há de chover… guarda-chuva nenhum vai mudar isso.


11 de fevereiro de 2011

Coração

Finjo que não adianta dizer nada e calo a palavra antes mesmo dela se formar em minha garganta, para que eu não diga que tenho medo. Medo de tentar, de dar um passo torto, de ser intensa, de acreditar, de ter o coração partido em infinitos pedaços novamente.
 Parece que a gente não sossega nunca até que aconteça conosco o que tanto dizem por aí... até que a gente sinta que dói e que machuca mesmo e que o coração aperta no peito, bate descompassado, desacelera e acelera sem parar. Não sei dos outros, mas o meu coração não para nunca. Vira e mexe, ele tá lá de novo: procurando. Burro, parece que não entende que a gente não acha nem escolhe nem espera: tudo acontece no momento mais improvável que possa existir. Como se fosse um costume meu, digo: “não te atreve, coração! Larga de ser tão bobo assim... sempre acredita em tudo, se deixa levar, deixa acontecer. Não deixe! Quero ver quem vai cuidar de você quando estiver dilacerado de novo”; mas ele nunca escutou, nunca escutará. Parece que faz questão de errar. E eu, como sempre, fico atrás, perdida, sem saber o que fazer ou como agir. Nunca quis, nunca entendi, nunca sequer me atrevi a nada... O culpado é esse coração estúpido, que samba no peito toda vez em que te vejo. Esse coração de sempre, que passa na frente de qualquer decisão que eu tenha tomado previamente, e decide sozinho, acreditar de novo em tudo o que você fala. É por isso que bato sempre na mesma tecla: porque invento de procurar por aquilo que não se procura, só se sente.
Por essas e outras que calo a palavra antes que ela consiga passar por meus lábios e se pronuncie apontando para o culpado. Eu tinha – e tenho – muita coisa pra te dizer, mas temo que inda fique guardado por muito aqui. Talvez você sinta o meu corpo vibrar quando estiver por perto e saiba o porquê e compreenda, sem que eu precise gastar consoantes e vogais.



Talvez você sinta meu coração sambar. Nem é preciso estar muito perto... qualquer um pode ver que ele é louco por você.


4 de fevereiro de 2011

Souvenir

Talvez eu devesse ter dado um jeito de falar o que ficou preso na garganta; mandar alguém dar-me uma tapa para sair o som, beber água, inventar a coragem que não tive. Mas tenho dentro de mim uma teimosia involuntária, que me faz fazer tudo errado e percorrer caminhos numa ordem inversa, como se mesmo no começo, eu já estivesse machucada e meu orgulho não me deixasse dizer que eu queria tentar, que eu te queria por perto e queria tanto, que tinha medo do tamanho desse tanto. Eu nunca soube medir tantos e quantidades. Sei sentir, mas frequentemente erro as medidas.
O céu era um mar de nuvens no dia em que você apareceu. Nada poderia ter sido mais inesperado naquele dia. Mas você foi. E aconteceu em mim de um jeito tão imprevisto quanto sua chegada sem avisos e sem nenhuma vez bater na porta do meu coração antes de entrar invadindo. Sem pedir licença nem calcular distância, seus olhos bateram nos meus, e eram de tal veemência, que meu coração perdeu o ritmo; enfraquecia e quando quase recuperava a força, teus olhos, dessa vez, surgiam nos meus. Foi de repente. Foi como num truque de mágica: desviei o olhar por dois segundos e pronto... você estava lá. Quis naquele instante que você durasse por muito e muito e muito e muito tempo. O tempo passou, você não se gasta aqui do lado de dentro.
Pergunto-me porque você passou a deixar entre nós um espaço que nunca existiu. Mas retorno à estaca zero e lá vem a antiga ferida me fazendo ter medo de dizer de uma só vez que te quero e que ainda tem espaço aqui, mesmo com toda essa parafernália de sentimentos ocupando meu (teu) espaço. Acabo não dizendo nada. Você vai, do mesmo jeito que veio: do nada, de repente, e agora, sem despedidas. Eu fico.
Tento ir embora sem me despedir de mim, pra ver se assim meu coração se desliga das lembranças dos dias em que você me olhava nos olhos e eu me desconsertava toda. Mas não dá certo. Nunca dá. A solução que achei foi a de te guardar numa caixa, como se fosse um souvenir. E te guardei.


Você permanece na mesma caixa de recordações. Eu nunca mais inventei de abri-la.