30 de maio de 2011

Invasão

Parece até que minha memória é porta,
pra você ficar batendo nela.
Vez ou outra me aparece com essa sua cara
e eu preferia não ter que lembrar de nada,
apagar pedaços,
queimar esse filme que passa bem na hora que vou dormir.


O problema é que memória é a dor do coração:
ela lembra,
ele é que sente.


Mas olha,
eu só queria dizer que fico aqui enquanto restar tempo.
Enquanto restar coração,
sentimento,
vontade,
e um pelo menos um pouco de mim.


16 de maio de 2011

Agridoce

        


      Mania insuportável essa que o ser humano tem de querer descrever tudo; de querer saber falar sobre cada mínimo detalhe, cada gota de sentimento e cada cicatriz que um coração tenha. Mania de querer ouvir palavras - e que sejam as três mais pedidas, se possível. Esquecemos que somos feitos de instantes, e, clichês à parte, palavras não apagam nada do que foi vivido. Pois bem, é aí que você entra. Você e essa sua mania – pior do que a minha – de querer entender, de botar palavra, de tentar explicar.
        Longe de qualquer estereótipo, você chegou. E fomos mais do que dois: fomos um nó apertado, bem amarrado. Até que um dia esse nó começou a te sufocar, e, de repente, você já tinha se soltado. Parecia que o sentimento não bastava. Você queria mais, embora também quisesse menos. Nunca te cobrei nada, talvez porque não quisesse ser cobrada, não sei. O que sei é que ainda escuto você aqui dentro. Nosso tempo passou, mas você ainda faz barulho.
        Vez ou outra você aparece com essa sua mania de jogar palavras em mim, querendo mexer comigo, querendo que eu diga o que eu sinto. Mas eu não sei dizer, e não tem palavra nenhuma que consiga explicar o que um coração sente. Por que você simplesmente não aceita o que fomos? Uma vez na vida, sem explicação, apenas o sentimento. O nosso sentimento. Aquele, sem conceito algum, a não ser pelo rabisco de duas palavras que tentava definir o que se passava dentro de nós.
 O problema é que você conseguiu me contornar tanto e inúmeras vezes, que acha que pode fazer novamente. E aí eu preciso me comportar quando você está por perto. Preciso me controlar, dizer que não e parar com aquela coisa de se deixar levar, porque senão você me contorna mais uma vez e eu vou querer te rasgar, te explorar, te conhecer melhor cada vez mais. Você vai voltar a ser meu livro preferido e eu vou querer inventar capítulos e mais capítulos, todos os dias. E depois vai acontecer a mesma coisa: você vai querer ir embora, eu vou ficar aqui, vou te perder, te achar, te encontrar mais uma vez e lá vem a mesma história de novo de novo de novo de novo de novo... e eu ando tão cansada de repetições.
Num dia desses, me peguei definindo você - ou atitudes suas, sei lá. Vai ver essa coisa de convivência faz a gente pegar um pouco das manias dos outros -, logo depois de conversarmos. Lembrei de tanta coisa nossa. Flores, cartas, anéis, presentes, músicas, guardanapos, confissões e outras lembranças. Lembrei que um dia você me pediu pra definir o seu beijo. Não sei se falei o que realmente acho, mas ele sempre foi apressado, quente, intenso... como se fosse escondido. Um instante com gosto de sempre.
Se você tivesse me perguntado agora, daria sorte. Em epifania, finalmente descobri a palavra exata: agridoce. Você e seu beijo. Indeciso entre o doce e o ácido, você é os dois, simultaneamente. Talvez por escolha, autoproteção ou, simplesmente, por não ter conserto.
Só queria que você soubesse que quando penso em você com o meu coração, algumas perguntas se respondem assim, facilmente. É involuntário, como as batidas taquicárdicas dele.


 Será que você sabe?