Hoje acordei achando que estava dentro de um sonho
teu. Por quê? Será que você sonhou comigo também? Será que a gente pode entrar
assim no sonho do outro? Sem bater na porta, sem pedir licença? O que será que
se passa dentro de você? O que será que acontece aqui dentro de mim? Sinto como
se eu estivesse repetindo palavras buscando um jeito de traduzir o meu
interior. Talvez o silêncio explique a bagunça que me preenche. Ou talvez seja
necessário criar palavras. Talvez, ainda, fosse necessário apagar memórias para
que desse jeito teu rosto não me apareça mais na mente. Nem teus olhos,
orelhas, sobrancelhas, boca, nariz, pescoço, costas, barriga, tudo. Nem teus
sinais e essas coisas que me aparecem repentinamente e eu acho que podem
significar qualquer coisa. Nunca sei. Tem como saber? E se for nada? Mas e se
for tudo? Quase enlouqueço. Meu subconsciente vê teu nome sempre e em todo
lugar. O que faço? Queria que cada vez que eu escrevesse teu nome tuas
aparições diminuíssem em minha cabeça. Eu dançava, tu me olhavas. De longe,
nossos olhos estavam juntos. E nossos corações? Me abraçavas. As palavras
sumiam. Onde mais eu buscaria palavras quando todas me desapareceram em plena
madrugada? Por que as músicas são mais tuas do que dos próprios autores? Por que
mal consigo escutá-las? Nunca mais darei Chico, Caetano, Otto, Beatles ou
qualquer outro para ninguém.
Momento de lucidez: é minha cama agora, onde está
você?
Por que eu chorava? Por que tu calaste? Ainda é sonho? Onde terminou esse devaneio? Era meu ou era teu?
Por que eu chorava? Por que tu calaste? Ainda é sonho? Onde terminou esse devaneio? Era meu ou era teu?
A gente parece filme quase queimado, negativo de
foto que esqueceram de revelar.