É tanta coisa junta. Estresse acumulado, tensões,
amores mal resolvidos - tem também os indesejados e mesmo assim, guardados -,
histórias mal contadas, finais sem seus devidos fins, promessas e lealdades
descartadas. Na verdade, o problema é que o amor me enche de perguntas e
eu invento de querer as respostas na hora errada. A gente tem (eu
tenho) que parar de enfeitar as coisas e começar a ser pelo menos um
pouquinho pragmático. Fica difícil não querer um par de pés junto aos seus
na cama, num final de tarde, num desses momentos silenciosos de domingo. Ainda
mais complicado lembrar-se do dia em que aquele nariz quase morreu no seu
pescoço e os dois ficaram daquele jeitinho, quietos, como que para sempre
grudados; o nariz dele no pescoço dela. A gente nunca sabe quando e como
começa, a gente nunca sabe de nada... mas a gente tem que parar de botar amor
onde não tem. Se a
blusa é rosa ou vermelha, é tudo questão de ponto de vista. Mas se é amor ou
não, é questão de coração.
Vezenquando
até penso em como a gente podia ter dado certo. Ou não, vai saber. Penso em
como poderíamos ter sido só nós dois. Dias vazios ou cheios, chuvosos ou
ensolarados, tristes ou felizes: só nós dois. Mais nada. Penso em como você
fazia - e até ainda faz – surgir novas cores pintando o meu rosto, em como você
trazia jardins pra perto do meu peito. Fico a imaginar se alguma vez fui capaz
de te dar o mesmo que você deu a mim. Um arrepio, pelo menos. Uma música, sei
lá. Um sorriso ao lembrar alguma coisa minha, quem sabe. Talvez até uma saudadezinha
de nada, só pra alimentar esse amor meu, mesmo que de longe. Fico louca
querendo saber de você.
Mas o amor
tem dessas coisas, não é? A gente só quer ver o outro feliz. E eu te sinto
feliz, meu bem. Mesmo que seja uma daquelas felicidades confusas, de momento,
misturadas com tantas outras coisas. Te vejo daqui. Te acomodo no meu coração,
bem lá no cantinho, pra nunca te deixar ir.
Te guardo. Já faz tempo que você vive dentro de mim, benzinho. A gente
não escolhe, só sente. E diz que sim.
A onda que
bate aqui é forte, mas a maré vai diminuindo. Qualquer dia desses o mar fica
seco. Me deixo levar: bóio no meu coração, esse oceano que a cada dia vai
ficando mais salgado. Cuidado pra você não cair dessa bóia, amor. Vê se te
segura bem. Eu venho segurando até bem demais, não é? A gente aprende. Se
quiser, te ensino. Mas te cuida, que eu tô indo nesse balançar. Não sei se
volto, mas não te quero perdido. Te guarda. Eu te guardo. E vou.
Amar é querer ficar, mas ter que ir embora. É querer te saber; nem que seja só por um simples “tá bem?”.
É estar cheio de dúvidas e não ter sequer uma resposta, um esclarecimento que
ajudasse a seguir o caminho. É estar constantemente insone, dopado: vive-se sem
ser. Amar é adorar pelo avesso, ser tua sem pestanejar, doando e doendo: amor.